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sexta-feira, 9 de março de 2012

CAPÍTULO 23 - O GUIA LOPES E A RETIRADA DA LAGUNA


CAPÍTULO VINTE E TRÊS

O GUIA LOPES  E A RETIRADA DA LAGUNA




Você sabe por que do nome Retirada da Laguna?[1]

Por que Laguna?

Por que Guia Lopes?

Origem do nome Lopes?

E o José Francisco Lopes?

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a) Laguna -   Nome da Fazenda de Propriedade de Francisco Solano Lopez, então  Presidente da República do Paraguai, propriedade onde se criava gado bovino,  aproximadamente nove léguas, além de Bela Vista, para o sul, dentro do território  paraguaio.   Laguna, região que apresenta formação de diversos pequenos lagos, formados principalmente por ocasião das chuvas.



[1] Ver  as duas ilustrações no capítulo 22, Cartografia, os mapas invasão paraguaia e o das tropas brasileiras.

(Hacienda Laguna) texto/imagem http://www.retiradalaguna.hpg.ig.com.br/
por onde passou a Coluna. (. . .) Um platô que domina vasta extensão da região, convidava o Coronel aí acampar, mas, esta vez ainda, os refugiados fizeram prevalecer suas opiniões que consistiam em seguir sem retardo, até o centro da fazenda, onde o gado podia mais facilmente ser dominado e cercado. Em consequência, a continuação da marcha foi resolvida e seguiu-se, mas sem que resultasse em nada do que se prometera. Acampa-se à meia légua de lá, (. . .) (La Retraite de la Laguna). Figura  01.

b) Retirada - Ato ou efeito de retirar; marcha das tropas afastando-se do inimigo; fuga, debandada, recuo. No Contexto da Guerra do Paraguai, a Retirada foi o ato de recuo das tropas

brasileiras em operação no sul da Província de Mato Grosso, em 1867, sob o Comando do Coronel Carlos Moraes Camisão, que depois de terem forçado o recuo das tropas paraguaias estacionadas nas regiões de Coxim, Miranda, Nioaque, para além do Rio Apa e avançado território paraguaio adentro, por falta de condições diversas, entre outras, operações  de guerra, cavalos, armamentos, alimentos,  e a própria reação dos paraguaios, retiraram-se em direção a Nioaque, a base de operações da Guerra.



Retirada das Tropas brasileira da Fazenda Laguna-Paraguai “  tropas brasileiras, (travessia de Miranda á fazenda Bom Jardim MT). A  fazenda do Sr. José Francisco Lopes após marcha recontinua a  Nioaque. Desenho extraído da capa de caderno escolar da administração do prefeito José Rosalvo Fraga dos Santos. – Figura 03.


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c) Guia Lopes   - José Francisco Lopes,  conhecedor  e morador da região, proprietário da então fazenda Jardim (hoje proprietário o senhor Joelcio de Souza Padilha,da antiga sede rodovia caminho  Guia Lopes da laguna - Bonito), serviu como Guia ou Prático,   acompanhando   as forças em operação no sul da província de Mato Grosso até a região da Fazenda Laguna e de lá o seu retorno até  próximo o local  do atual Cemitério dos Heróis da Retirada da Laguna, na cidade de Jardim.    Entre os expedicionários civis e militares  chamavam-lhe pelo sobrenome, Lopes,  Nome de Guerra - daí  originando o nome de Guia Lopes.
Laguna - A sua ereção a Distrito de Paz, na organização judiciária de Mato Grosso, foi efetivada pela Lei Estadual número 140 de 30 de setembro de 1948, com o  nome de Guia Lopes da Laguna, figurando, como tal, na divisão territorial vigorante no quinquênio de 1949-1953. A partir desta data foi  acrescentado o nome Laguna, para evitar confusões, tinha em Aquidauana uma estação de trem que se chamava Guia Lopes e outra cidade em Minas  Gerais que também chamava Guia Lopes.


A Força Expedicionária no Sul de Mato Grosso


Depois de quase dois anos,  a nossa região que se encontrava sob o domínio paraguaio, em abril de 1865, com a finalidade de socorrer as tropas estacionadas em Mato Grosso, Cuiabá e Santana do Paranaíba, partiu de Santos, São Paulo uma expedição de 600 homens, acrescida  principalmente de voluntários do Rio de Janeiro, São Paulo, Goiás, Paraná, Minas Gerais  para ocuparem posição em Nioaque no dia 24 de Janeiro de 1867, daí os dois anos


A um documento inédito[1] do Guia Lopes falando da sua situação na data de 15 de fevereiro de 1867, cujo teor é o seguinte:

“conforme as ordens recebidas sahi do acampamento de Nioac a 30 de janeiro dirigi-me a Colônia de Miranda em exploração dos pontos e lugares occupados (-) pelos Paraguayos. Tenho a honra de participar a .Sra.      que encontrei vestígios de uma ronda de dez homens a Cavallo e reconheci que haviam parado e feito pouso naquella Colonia.  Do lado do Apa notei fumaça de fogo nos campos e no Desbarrancado a sete Légua daqui verifiquei que antes das chuvas que cahiram no fim do mes próximo passado, ahi esteve uma partida inimiga.

Communico  também a V. Sra. Que vários objecto fora por mim encontrados numa ronda em agosto, havirão desapparecido; o que me fes suppor que os paraguayos os tinham transportados allem do Apa.

Apresento a V.Sra. os meus sentimentos de respeito e alta consideração.”


“25 de Fevereiro de 1867 havíamos saídos de Nioac.”

“A 26 estávamos no Canindé.


E  a 27 estávamos no Desbarrancado (Município atual de Guia Lopes da Laguna), onde debandara nos últimos dias de 1864, o Corpo de Cavalaria do Tenente Coronel Dias.    Demoramos ali  dois dias, 28 de fevereiro e 1º de março.

No dia 2 de março chegamos ao rio Feio (Município atual de Guia Lopes da Laguna).

E no dia 3 de março, ocupávamos o local onde existira a Colônia de Miranda, 12 léguas ao Sudoeste de Nioac”.  

Em 17 de abril de 1867, a  Coluna  da Força  Expedicionária em Operação no Sul da  Província de Mato Grosso, comandada pelo Coronel Carlos Moraes Camisão, chegava à fronteira do Império do Brasil, de D. Pedro II,  com a República do Paraguai, de Francisco Solano López, alcançando a “Bella Vista” (Paraguai) no dia 20.

A Busca de gado nos campos da Fazenda Laguna no Paraguai


“No dia 21 de abril, entraram as forças brazileiras sob o comando do Coronel Camisão no Forte Paraguayo de Bella Vista, que foi desamparado pela sua guarnição á vista de nossas bandeiras”. 

A Busca de Gado na Fazenda Laguna


”Desde o dia da occupação, começando-se a fazer sentir a falta de gado, mandava a prudencia que fosse effectuada uma prompta retirada sobre Nioac que era a nossa base de operações que algum tanto inconsideravelmente fôra deixada, apenas protegida por uma pequena guarnição, visto como mesmo a diminuta porção de 1500 a 1600 soldados, não permittia distrahir muitas praças por occasião de avançar contra o inimigo”.


“O inimigo que occultava a sua força, retirou-se como sempre, deixando-nos a estrada franca até  a Invernada da Laguna, onde acampamos, a  8 ½  leguas do rio Apa, na esperança de obter algum gado.    Varias vezes foram os nossos batalhões proteger aos campeiros, sendo sempre incomodados por partidas de cavallaria, as quaes sem fazerem frente a nossos soldados, impediam, comtudo, totalmente a execução do que pretendíamos”.


“Foi, pois,  pouco desvanecendo-se a esperança que nutria o Commandante das forças, a qual, depois de resolver levantar acampamento quis, contudo, por uma surpreza audaz, ir bater o inimigo, acampado a mais de legua e cujo numero era ainda desconhecido.    Encarregados desta honrosa missão foram o Batalhão n. 21 de Infantaria que eu tinha a ufania de commandar e o brioso Corpo de Caçadores a Cavallo, que tem a sua frente o denodado Capitão Pedro José Rufino”.


A Retirada da Laguna

“No dia 8 de maio ás 7 horas da manhã começou a força a  mover-se, sendo  logo tiroteiada fortemente por infantes, emboscados em uma mattinha, os quaes,   porem cederam á bizarria do Corpo de Caçadores a Cavallo que d’ella os expelliu, apezar das de Cavallaria que o obrigaram a formar circulos parciaes até a chegada de uma grande Divisão do Batalhão n. 20 que com uma bocca de fogo correu em seu auxilio”.  


De regresso ao solo brasileiro


“O dia 10 foi de descanso, effectuando-se a 11 pela manhã a passagem do Apa, com a qual gastou a força mais de 4 horas pela quantidade de animaes e carros que passaram de uma margem a outra.   As 9 horas começou na ordem adoptada anteriormente, caminhando-se perto de tres quarto de leguas sem avistarem-se inimigos”.

A mudança de Direção


A mudança  de direção   -   ao invés da estrada que ligava à Colônia Militar de Miranda, procurou o caminho na direção da Fazenda Jardim de José Francisco Lopes.
”Esse facto importantissimo, influiu poderosamente para que o Coronel Camisão tomasse então uma resolução que veio para o futuro crear novos e terriveis obstaculos a facil retirada das forças.

Tomaram, pois, as forças nova direcção, abrindo os pés de nossos soldados, uma estrada por terrenos nunca d’antes trilhados.


No dia 13 de maio6  cahiu uma chuva torrencial que impossibilitou a marcha, tornando os terrenos que deviamos atravessar, quasi intransitaveis e fazendo sofrer a nossa soldadesca extremamente pela falta de fardamento.  


A 14 recomeçou a marcha que em breve tornou-se penosissima, pelo estado  dos terrenos e pelo novo meio de guerra que adotarão desde então os paraguayos para impedir-nos a continuação da viagem: lançavam fogo aos campos, os quaes reseccados pelo sol ardente de dias de trovoadas ardiam com intensidade extraordinaria, cercando-nos por todos os lados de calor abrasador e fumaça asphyxiante.   O vento Norte que  soprava constantemente n’este mez, ainda mais critica tornava a posição da nossa força”.


Cólera-morbo7 


“No dia 18 de maio, houve um novo tiroteio, retirando-se o inimigo, apenas começou a trabalhar a artilharia  que elle respeitava extremamente.     N’este dia começaram aparecer com mais frequencia os casos de uma molestia que os dous distinctos facultativos da força, duvidaram por dias, apesar de seus syntomas irrecusaveis em qualificar, e que em breve tornou-se um flagello medonho, capaz de causar a desorganisação dos mais bem constituídos exércitos.


Marchou a força debaixo de chuvas repedidas durante os dias 21, 22, 23, 24 e 25 de maio, em que chegou ao corrego Prata, a 3 ½ leguas do Jardim”

“O numero de enfermos era tal que litteralmente metade da força era empregada em carregal-os,  pois que cada piola occupava oito homens em sua conducção. O descontentamento e a fadiga da soldadesca eram evidentes.   Os sãos depois de poucas  marchas cahiam exhaustos pelo cansaço aos golpes da molestia; o estado geral, reclamava uma prompta solução. 

O Coronel Camisão, tomou então uma medida de que dependia a salvação do resto da força, medida cuja execução foi horrorosa e custou-nos momentos angustiosos e crueis.

A 26 de maio ficaram abandonados 76 moribundos,os quaes apenas moveu-se a força, foram degollados pelos paraguayos que seguiam-nos sempre em certa distancia”.


Este lugar, ficou denominado de Cambaracê, fica hoje no município de Jardim.

As Despedidas de José Francisco Lopes,  O GUIA LOPES

Na fazenda Jardim do José Francisco Lopes
“A causa d’aquella modificação hygienica, foi a quantidade extrema de limões e laranja que nossa soldadesca encontrou no pomar da fazenda Jardim, como especifica  a parte dos medicos.

Os dias 30 e 31  de maio e 1º de junho foram todos empregados na passagem do rio12  que se conservou sempre cheio dando apenas pessimo e perigoso vão.   Com difficuldades passaram as nossas tropas, as 4 peças e armões havendo sido queimados os carros


Assim, pois, no dia 1º de junho achavam-se as forças no lado direito do rio Miranda, com 9 leguas diante de si em boa estrada para chegar a Nioac.   Os paraguayos haviam effetuado a passagem antes de nós e ja se achavam a nossa frente”.


A  Marcha sobre Nioac


“Deis por isso, ás 6 horas da tarde ordem de marcha ás forças caminhando a noite inteira e chegando ás 3 horas do dia 2 de junho no Canindé, a 3 leguas de Nioac.

No Canindé14, achei signais da passagem dos paraguayos.   Carros queimados, existiam no caminho, estando o chão coberto de farinha e arroz.
            A soldadesca comeu enfim, apanharam tudo o que foi encontrado depois de 22 dias de cruel fome, durante os quaes a ração de simples carne era tão diminuta que repartia-se 4 a 8 rezes, em logar das 21 que habitualmente iam para corte!

            Do Canindé, segui incontinentemente para Nioac, encontrando  pelo caminho restos de carros queimados e mantimentos.    A leguas de distancia viram a força as casas de palha do acampamento ardendo, estando ás duas horas da tarde n’aquelle  logar de desolação e tristeza”.

“Os paraguaio que chegaram em Nioac eram poucos.   A Guarnição que havia ficado  para proteger o local e as coisas, fugiram.


Os paraguaios atearam fogo sobre Nioac mais uma vez”.


Em  Nioac
“Ainda em Nioac, esperava-nos nova calamidade.  No chão do deposito havia ficado espalhada muita polvora que não poderia ser transportada.   Apesar das mais energicas e reiteradas recommendações, a imprudencia de um soldado provocou uma formidavel explosão que queimou 13 praças, das quaes 6 faleceram poucos dias depois apesar dos cuidados que fiz observar na conducção d’elles.    Com a retirada do Capitão Martinho José Ribeiro era impossivel a estadia em Nioac, reduzida á  cinzas”.


Fim da retirada da Laguna!

“Quartel do Commando interino das Forças  Operadoras no Sul da Provincia de Matto-Grosso.


Acampamento junto a margem esquerda do Rio Aquidauana, 16 de junho de 1867.

Major Thomaz Gonçalves
Major da Comissão, Commandante Interino das Forças”.


[1] Foto arquivo do nono batalhão de Suprimento, Guia Lopes, Memorial Guia Lopes. C. Grande. Confesso que até este momento de pesquisa dois documentos nos atestas oficialmente o José Francisco Lopes: a sua certidão de nascimento e este relatório.
6 Maio de 1867.
7 Cólera doença infecciosa caracteriza por vômitos, diarreia, cãibras.  É uma moléstia infecciosa aguda, fortemente contagiosa,  produzido por um bacilo ligeiramente curvo, que, pela sua forma, é chamado bacilo vírgula.  Descoberto por  Kock em 1883.  A cólera começa com náuseas, insônia e arrepios seguidos de uma diarreia violenta e repetida acompanhada de vômitos e de vertigens.  Alguns dias depois o doente queixa-se de zunidos nos ouvidos, palpitações no coração, peso no estômago, expressão de angústia e palidez na face.  Os intestinos apresentam-se vazios sem dor, com descargas semelhantes à água de arroz.  A dor no estômago e sobre o coração é muitas vezes insuportável, cãibras nas barrigas das pernas e nos braços.   A sede é contínua e violenta.  O doente cai em algidez.  Muitas vezes as urinas são suprimidas.   O doente cai numa sonolência depois em estado comatoso e morre ou pode  repentinamente melhorar e então ir para a convalescença ou cair no coma fatal em poucos dias. (Baseado na Enciclopédia Didática de Informações e Pesquisa Educacional, vol. 3, 1987. p. 951).
12 Rio Miranda.
14 O Rio Canindé,  afluente do Rio Nioaque, tem a sua nascente nas terras  do atual Município de Guia Lopes da Laguna.




Canhões que foram utilizados durante a Guerra do Paraguai

Figura 04. Arquivo do Exército.



Projétil utilizado em canhão raiado e bomba explosiva. Figura 5 –  Arquivo do Exército


FIM



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