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quarta-feira, 9 de outubro de 2013

JOSÉ BIÃO NETO

JOSÉ BIÃO NETO

CASA ONDE JOSÉ BIÃO NETO VIVEU ATÉ O ANO DE SEU FALECIMENTO EM GUIA LOPES DA LAGUNA - MATO GROSSO DO SUL - NAS IMEDIAÇÕES DO ATUAL POSTO TIÃO JOÃO,  SAÍDA PARA BONITO, ATUAL VILA JALÚ, A DIREITA RODOVIA, AVENIDA SANTA TEREZINHA SENTIDO CAMPO GRANDE - GUIA LOPES DA LAGUNA.

PARTE 1

NOTA DO EDITOR 1
POR. José Vicente Dalmolin
A última entrevista dada por José Bião Neto, meses antes do seu falecimento
("in memoriam").
VIDA E MORTE DE BIÃO, HISTORIADOR ANÔNIMO
Por Revista Executivo Plus, a Revista de Mato Grosso do sul Ano 2 - nº 21
– Pags. 5-7 – jan/fev 1986.
“José Bião Neto, 72 anos, casou-se aos 65 anos, desquitou-se depois de 6 meses. Professor. Um Cidadão comum aos olhos dos sul-matogrossenses. Pobre, morando numa casinha de madeira cercada de flores bem cuidadas, na cidade de Guia Lopes da Laguna, onde fez toda a sua história e escreveu uma das partes mais importantes da história do Brasil, ocorrida no então Mato Grosso, hoje Mato Grosso do sul.
Um dos compromissos da Revista Executivo tem sido com a História. Além dos prestimosos historiadores da Academia Sul-matogrossense de Letras, buscamos em cada recanto deste Estado, figuras importantes e anônimas de ilibada reputação que guardam na sua memória fatos  importantes que se passaram em épocas remotas, pessoas que são ou fizeram parte da história.
No final de Setembro de 1985, encontramos em Guia Lopes, o Sr. Bião, que nos fez um belíssimo depoimento. Infelizmente soubemos que ao meio dia de domingo de 10 de novembro (1985), o Sr. Bião foi acometido de um mal súbito  e não pode ver as narrativas que fez para a Revista Executivo. Pela sua maneira simples e cativante, deixou-nos uma saudade imensa, ele não pode ver publicada a sua narrativa, que ficará imorredoura.
Como militar, chegou em Aquidauana, para servir no IV Batalhão de Sapadores (para quem ainda não sabe, Sapadores era uma unidade militar encarregada de tudo aquilo relacionado com movimento de terra, por exemplo, trincheiras, poços de água, pontes, etc.) Isso foi em 1935, mas dois anos depois Bião Neto foi transferido para a 1ª Companhia do Batalhão de Sapadores, situada no então chamado Acampamento do Rio Miranda, hoje, progressiva Guia Lopes da Laguna, o cenário perfeito para Bião fazer História, uma história contada num diário que cuidou como algo mais valioso da sua vida.
O Começo de tudo
Um ano depois da sua chegada no Acampamento do Rio Miranda, começa o seu diário, e aqui nesta entrevista exclusiva à Revista “Executivo Plus”, ele começa a contar o surgimento de sua cidade adotada por ele como sua terra natal, pois Bião nasceu em Garanhuns, Pernambuco:
__ Eu servia ao Exército, nesta Companhia, quando nasceu uma criança no Acampamento. Foi a Primeira, um motivo muito especial, portanto. O bebê era filho de José Antônio Bulhões e Sebastiana Farias Bulhões. Ele era Sargento da 1ª Companhia de Sapadores e morava aqui no Acampamento do Rio Miranda. Então surgiu a dificuldade para batizar essa criança porque não tínhamos igreja, padre; apenas três ranchos de taquara batida, cobertas com folhas de bacuri, uma palmeira nativa da região.
__ o Padre – continuou Bião, só vinha até Nioaque distante 54 km daqui, de 30 em 30 dias, e isso quando não chovia, a criança trouxe ao mundo o nome de Newton Bulhões[1], logo o pai do garoto, quer dizer Sargento José Antônio conseguiu um padrinho, um outro Sargento muito seu amigo, o Peri José da Silva[2], mas faltava ainda uma igreja, uma escola para crianças, enfim a criação de um povoado. Entrou na história toda, o comandante da companhia, o Capitão Teodorico de Farias, que deu todo o apoio para a criação do Povoado, inclusive arranjando um topógrafo, o Jacó, conhecido como “Nego Jacó”.
__ Com topografo, o Capitão foi fazendo contatos; juntou os fazendeiros da região.  Entre eles estavam na época, o único filho vivo do Histórico Guia Lopes da Laguna, que aliás tinha o mesmo nome do pai, quer dizer José Francisco Lopes. Aliás, devo esclarecer que já li em algumas publicações o nome de José  Francisco Lopes Filho, isso não é verdade, o fundador de Guia Lopes não tinha no nome o Filho, era unicamente como o nome do pai dele, isto é, José Francisco Lopes.
Nascimento da cidade
__ José Francisco Lopes, então doou as terras, uns 30 hectares. Outros fazendeiros deram vacas, ajudaram a arrecadar dinheiro para fazer a igreja, e assim por diante. No dia 12 de fevereiro de 1938, foi fundado o patrimônio de Guia Lopes da Laguna e no dia 19 de março deste mesmo ano foi aprovada pelos fundadores, pelo Capitão Teodorico de Farias e todos os moradores locais e da redondeza, a ata de fundação de Guia Lopes da Laguna. Neste dia Newton foi batizado e tivemos uma grande festa.
__ Escolhemos também o padroeiro da cidade, que é são José, em homenagem aos nomes dos três fundadores e a um herói que também chamava-se José, quer dizer José Francisco Lopes, (o herói da Retirada da Laguna, o Guia Lopes); José Francisco Lopes, filho do Guia Lopes e doador das terras e José Antônio Bulhões. Tem mais fundadores é claro, mas os legítimos mesmo são José Antônio Bulhões, Peri José da Silva e José Francisco Lopes.
__ Colocamos o nome da Escola de “Visconde de Taunay”, o primeiro Tenente, correspondente oficial de guerra, que escreveu o livro Retirada da Laguna. Juntando assim escola e igreja formamos a maior atração para o povoamento de Guia Lopes. Quem queria casar vinha para cá, e da mesma forma os fazendeiros interessados em dar instrução aos seus filhos. Assim foi ajuntando gente, surgiu a primeira loja, a segunda, e hoje está  esta cidade maravilhosa que é Guia Lopes da Laguna, que eu vi nascer.
Um Amigo Irmão
 A amizade de irmão com o filho de Guia Lopes. Aqui começa um outro capítulo da história feita por José Bião Neto.   Ele e José Francisco Lopes ( o filho do herói) se conheceram ainda no então Acampamento do Rio Miranda, em 1937. A amizade nasceu de uma forma comum, ou seja, José Francisco tinha uma fazendinha na vizinhança, onde todos procuravam buscar ali, laranja, limão e outros produtos, e um dia Bião conheceu seu maior amigo, conforme afirmou: “fomos compadres duas vezes. Meu amigo íntimo, muito querido mesmo”.
Através da amizade, Bião sempre esteve presente, com sua história, nos momentos mais difíceis da vida do filho do herói, nascido na fazenda Apa[3], cabeceira do rio Apa no dia 12 de dezembro de 1864. Foi naquela Fazenda onde tudo começou a piorar para José Francisco, quando em 1864, a Fazenda foi invadida por forças do ditador Francisco Solano Lopes.  Com menos de um ano de idade, sua mãe Senhorinha Maria Conceição Barbosa de Lopes, seu pai, José Párvulo Francisco Lopes e mais seis irmãos tiveram que fugir[4].
No mesmo ano, em meio a um laranjal nativo, fundaram a nova posse, as margens do Rio Miranda, criando ali a Histórica Fazenda Jardim. Alia paz durou muito pouco, porque em Janeiro de 1865 a Fazenda Jardim foi invadida por forças paraguaias. Dona Senhorinha[5] e seus filhos foram presos, levados para o campo de concentração de Vila Horcheta, na República do Paraguai, onde foi escravizada por cinco anos. No dia 1º de março de 1870 ela foi libertada juntamente com os filhos, mas já não voltou para a Fazenda Jardim, terminando de criar os filhos na Fazenda Itá, também as margens do Miranda.
Senhorinha ficou pobre com os filhos e numa tentativa desesperada, tentou reaver a posse da Fazenda Apa em abril de 1879, dirigindo extensa petição aos políticos da época, porém até a sua morte nada recebeu, perdendo os documentos originais da propriedade, que desapareceram do domicílio da família de Guia Lopes.  O amigo  de Bião, (José Francisco Lopes) também ficou pobre, inclusive não aceitaram que fossem aceitos como doação os 30 hectares  doados por ele para a fundação da cidade de Guia Lopes da Laguna.  Como uma ação entre amigos, todos que participaram da criação da cidade, resolveram dividir em lotes a doação e entrega-los a José Francisco, para que com isso ele pudesse sobreviver”.


[1] A grafia correta é Nywton. N.E.
[2] A grafia correta é Pery. N.E.
[3] O correto é José Francisco Lopes Nasceu na Fazenda Jardim, atualmente no município de Guia Lopes da Laguna, às margens da Rodovia que liga ao município e cidade de Bonito. N.E.
[4] Segundo minhas pesquisas, dona Senhorinha e todos os familiares foram feitos prisioneiros de guerra dos paraguaios em meados  de 1865 e levados para a Vila de Horqueta. O Guia Lopes, José Francisco Lopes estava ausente da Fazenda Jardim, encontrava-se em Miranda realizando negócios de gado. N.E.
[5] Para o leitor que desejar conhecer melhor a História sugiro a leitura do meu livro “Guia Lopes da Laguna, Nossa Terra, Nossa Gente, Nossa História. José Vicente Dalmolin.

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